DISPAROS ACIDENTAIS DAS ARMAS
TAURUS É MAIS UM FATOR DE RISCO AOS POLICIAIS CIVIS
Hoje,
(22/01), profissionais da Segurança Pública de todo o país estão submetidos a
uma situação desnecessária de risco: são cada vez mais comuns os casos de
disparo acidental, por queda sem o acionamento do gatilho, das armas fabricadas
pela Forjas Taurus, uma das três maiores indústrias de armas leves do mundo. Defeito
nas pistolas PT 24/7 (FOTO) expõe os policiais civis do DF a mais um fator de
risco à vida durante o trabalho. A empresa é a principal fornecedora das forças
de segurança do Brasil, graças a Lei 10.826/2003, as polícias só podem comprar
armas de empresas estrangeiras se não houver modelo semelhante produzida
nacionalmente.
Por
essas razões, seria natural esperar que o armamento produzido tenha qualidade.
Mais que isso, soa estranho imaginar que uma pistola municiada possa cair e
disparar. Mas é, infelizmente, o que vem acontecendo e isso indica a possibilidade de um defeito
gravíssimo na fabricação das pistolas da Taurus. Site reúne depoimentos de
vítimas, notícias de outros casos de disparo acidental e uma simples busca na
internet confirma essas suspeitas. A página “Vítimas da Taurus” é a mais
conhecida. Ela lista uma série de casos de policiais que se feriram em alguns
casos, fatalmente com a principal ferramenta de trabalho: a pistola Taurus PT
24/7 calibre ponto 40. As vítimas defendem a tese de que as armas, entre as
mais populares nas polícias brasileiras, tenham sido adquiridas com defeito de
fabricação. A fabricante ignora, sistematicamente, as ocorrências no Brasil.
FABRICANTE IGNORA
No
Distrito Federal, tanto a PCDF, quanto a Polícia Militar do DF (PMDF),
compraram diversos lotes da pistola. Até agora, contudo, apenas a PMDF realizou
o recall de alguns lotes junto à Forjas Taurus. O agente de polícia Luciano
Vieira, também diretor de Comunicação adjunto do Sindicato dos Policiais Civis
do DF (Sinpol/DF), é uma das vítimas. Ele tem empreendido uma jornada para que
a PCDF siga o exemplo de outras forças de segurança e realize a troca das
armas, um exemplo é a Polícia Federal, que utiliza armamento importado de alta
qualidade.
Essa
medida já deveria ter sido considerada há anos, mas vem sendo solenemente
negligenciada. O defeito nas armas utilizadas cotidianamente pelos policiais
civis só agrava a situação das condições de trabalho. O Sinpol/DF vem
acompanhando o caso de perto e solicitando às autoridades competentes que se
empenhem para que o policial possa trabalhar com segurança. “Todos estão com a
vida exposta: nós, policiais, e os cidadãos. A arma aparenta ter um grave
defeito de fabricação”, afirma Luciano.
O
caso dele ocorreu em novembro de 2011, no apartamento onde mora, em Brasília.
Ao chegar em casa e tirar a pistola da cintura, a arma de Luciano
acidentalmente caiu no chão. O choque contra o piso causou um disparo,
atingindo o policial na região do tórax. A bala atravessou o corpo dele saindo
pelas costas, na altura do ombro, alojando-se no teto. Luciano Vieira ficou
hospitalizado por quatro meses. A partir desse acidente, o diretor do Sinpol/DF
começou a investigar outros casos no DF e em outros estados, chegando a
conclusões estarrecedoras.
CASOS NO DF
Além
de Luciano, há registros de mais sete acidentes envolvendo policiais civis do
DF, três deles com armas fabricadas no mesmo lote. Por sorte, nenhum desses se
feriu gravemente. Em todos, as circunstâncias são idênticas: mesmo com a trava
de segurança acionada, a arma cai ao solo, dispara e o cartucho não é ejetado –
o que indica o defeito. Às vezes, contudo, a pistola nem chega a cair no chão.
Foi assim com o agente de atividades penitenciárias Patrício Junior de
Oliveira, que trabalha no Presídio Feminino do DF. Em abril deste ano, a
pistola 24/7 Taurus que ele portava disparou durante uma caminhada do agente
pelos alojamentos.
A
bala atingiu a perna esquerda, perto da veia femoral. O acidente trouxe
sequelas graves. “Esses casos são mais raros, mas acontecem. A arma estava na
minha cintura, eu estava com as mãos ocupadas e ela disparou apenas com o
movimento da minha caminhada. Por pouco, não morri”, recorda Patricio.
METODOLOGIA DA PERÍCIA
A
arma do agente penitenciário foi submetida à perícia no Instituto de
Criminalística (IC) da PCDF, que constatou um defeito no mecanismo de disparo.
O equipamento ficou inutilizado após os testes. “Esse fato é uma vitória, pois
somente agora, com a mudança na metodologia da realização dos testes, começamos
a constatar os defeitos nas armas”, explica Luciano Vieira.Já Patrício diz que
não sabia da possibilidade do disparo acidental até ocorrer com ele. “Muita
gente deixa de registrar a ocorrência porque não acredita que a arma possa ter
defeito e por medo de responder a um processo criminal. Minha competência
profissional foi posta em xeque por colegas, que desconfiavam do que ocorreu.
Mas o laudo já apontou que a arma possui defeito e pode disparar sem o
acionamento do gatilho”, confirma.
No
final do ano passado, uma agente da Polícia Civil do DF foi retirar a sua roupa
do armário e a pistola, que estava por cima das roupas, caiu no chão disparando
sem o acionamento do gatilho. Felizmente, na ocasião, ninguém ficou ferido.
Após os testes realizados no IC, a conclusão foi a que se esperava: a arma, ao
cair com o cano voltado para cima, em um piso de concreto, disparou. Os peritos
não indicam a causa do defeito. Existem, ainda, casos documentados de disparo
por quedas em outros estados e com diferentes tipos de pistolas, como a PT 640
e a PT101.
MUDANÇA NOS TESTES
Até
o caso de Patrício e da agente da Polícia Civil, a perícia simulava a queda em
uma placa rígida de plástico. Por não reproduzir a situação real do acidente,
conforme defendia Luciano, não era possível identificar o defeito. Só depois da
mudança na metodologia, com o uso do piso de concreto, as armas começaram a
disparar e foi assim em todos os testes realizados até agora. Nem mesmo os
peritos do IC sabem apontar o defeito ou o motivo do disparo. A alegação é de
que seria necessária a formação de uma equipe de estudiosos para avaliar o
possível defeito. Todos os casos analisados estão documentados. As armas
estavam devidamente lubrificadas, sem sujeira excessiva ou peças defeituosas.
REGISTRO DE OCORRÊNCIA
Luciano
Vieira, diretor do Sinpol-DF, defende que a realização de um recall é
absolutamente necessária e urgente, pois não faltam “evidências da existência
do problema”. Ele informa que toda documentação dos defeitos detectados já foi
encaminhada ao Ministério Público para que as providências cabíveis sejam
adotadas. O Sinpol-DF alerta para que os policiais que tiverem problemas
registrem uma ocorrência de natureza administrativa (caso não tenha algum
ilícito penal envolvido) de “apreensão de arma de fogo da PCDF com problemas
técnicos” e solicite o exame pericial de local caso haja vestígios. O armamento
deverá ser encaminhado à perícia.
ACORDO MILIONÁRIO
Em
agosto deste ano, a Taurus fez um acordo para pagar uma indenização de US$ 39
milhões por causa de disparos acidentais por queda, sem o acionamento do
gatilho (leia aqui, em Inglês). O caso envolveu, além do PT 24/7, os modelos
Millennium PT 111, PT 132, PT 138, PT 140, PT 145, PT 745, além dos PT 609 e PT
640. A ação foi movida em um Tribunal na Flórida, registrada por Chris Carter,
um policial do condado de Scott, Iowa. A
imprensa americana, Carter alegou que as armas da Taurus “têm o defeito de
disparar quando caem de uma altura normal, e um defeito de falsa segurança que
permite que a pistola dispare involuntariamente, mesmo quando a alavanca de
segurança manual está em posição “ligada” ou de segurança e o gatilho se move
para trás”.
A
ação acusou a Taurus de supressão e falhas de aviso sobre a segurança do produto
e violação das leis do consumidor. Na decisão, o juiz ressalta que a fabricante
“fraudulentamente escondeu e intencionalmente falhou em avisar o requerente e
os membros da ação coletiva sobre os defeitos de segurança com a intenção de
enganar o requerente, os membros da ação coletiva e o público em geral sem
conhecimento dos defeitos”. A empresa não admite publicamente o defeito, mas o
acordo na justiça americana indica que ele é real e deve ser investigado também
no Brasil, onde a linha de montagem está instalada e produz as armas para os
mercados nacional e internacional. Em uma matéria do Instituto Defesa,
disponível no YouTube, contudo, o gerente de marketing da Taurus, Eduardo
Minghell, diz reconhecer a existência de problemas no passado e de falhas
pontuais nos produtos da fabricante.
FONTE DAS INFORMAÇÕES: www.sinpoldf.com.br